Tendo em vista que vivemos em uma sociedade em que as
crenças baseadas no cristianismo estão muito presentes, entendemos que é
importante uma reflexão a respeito da posição da mulher dentro deste contexto.
Acreditamos que o fato de vivermos em uma realidade essencialmente cristã
interfere nas nossas relações e como consequência disto, também interfere nas
referências que temos a respeito do masculino e feminino.
Queremos esclarecer, também, que não temos como objetivo
fazer críticas em relação à figura de Jesus Cristo, e tampouco queremos
desrespeitar as religiões cristãs e seus fiéis. No entanto, entendemos e
acreditamos que os valores cristãos interferem na visão a respeito do feminino
e masculino em nossa sociedade. Apontar essas questões para nós é fundamental,
para que assim possamos refletir sobre a importância de resgatar a
espiritualidade feminina para aqueles que nela acreditam. Tentaremos fazer
colocações da maneira mais imparcial possível, embora acreditemos que alguns
valores apontados contribuam para a consolidação do patriarcado.
Conforme já citado no texto anterior, a primeira figura
feminina a aparecer na mitologia judaico- cristã foi Lilith, que foi
considerada a primeira companheira de Adão. No entanto, Lilith foi associada a
demônios e expulsa do paraíso por recusar se submeter a Adão. Lilith foi
retirada da versão da Bíblia que conhecemos, sendo que aparece uma segunda
figura como companheira de Adão, Eva. No entanto, pelo fato de Eva desobedecer
a Deus ao comer o fruto proibido, que representa o conhecimento, ela e Adão
foram expulsos do paraíso. E por buscar ter acesso ao conhecimento a respeito
do mundo Eva foi acusada de ser a responsável por todos os males da humanidade.
Ainda sobre o mito de criação existente na Bíblia, podemos
observar relatos de que o primeiro homem, Adão, foi feito a imagem e semelhança
de Deus, um Deus masculino. Quanto a Eva, a mesma foi criada a partir da
costela de Adão. Então, por este motivo deveria ser submissa a ele, de acordo
com a visão patriarcal. Entendemos que essas afirmações, incluindo as
apontadas no parágrafo acima, refletem intimamente no modelo de sociedade em que
estamos inseridos.
Continuando nossas reflexões e questionamentos, durante a
vida de Jesus Cristo encontramos outras figuras femininas que entendemos serem
fundamentais em sua trajetória: Maria Madalena, e sua mãe, Maria.
Em relação à Maria Madalena, observamos diversos relatos de
que ela foi a companheira de Jesus Cristo, dando continuidade ao seu legado,
após a morte do mesmo. No entanto, a versão que mais foi difundida é a de que
ela era uma prostituta arrependida pelos seus pecados, e assim passou a seguir
os ensinamentos de Cristo.
Sobre Maria, mãe de Jesus, temos uma figura livre de pecados
que o concebeu mesmo sendo virgem. No catolicismo, principalmente, o culto a
Maria é muito evidente, conforme nós observamos inclusive em nosso país.
Não temos como objetivo descrever com detalhes a respeito
das figuras femininas no Cristianismo. No entanto, notamos que no caso de Eva e
Maria Madalena, elas são associadas ao pecado, enquanto que Maria, a virgem, é
cultuada e deve ser o modelo a ser alcançado. E assim, esses valores são
projetados no contexto em que estamos, reafirmando a prevalência de uma
sociedade patriarcal, em que o Deus é do sexo masculino, e o feminino só é
sagrado quando se preserva sexualmente.
Diante disto, colocamos aqui as seguintes questões: se
existe um criador masculino, não seria coerente que houvesse uma fonte criadora
do sexo feminino? Por que a mulher deve submeter ao homem? Uma mulher só pode
ser considerada sagrada quando se preserva sexualmente ?
Deixamos aqui estes questionamentos com a intenção de
contribuir para que cada um de nós reflita a respeito do masculino e feminino
no mundo em que vivemos. E mais que uma reflexão, esperamos também que a partir
dela possamos continuar buscando respeito e igualdade em relação ao sagrado
feminino e masculino.
2 comentários:
A criação é feminina, vem de uma fêmea. O masculino lança a semente e expande território.
Pra mim, só de colocar um macho (homem) como criador já é algo que vai "contra" a vida em si.
Sim, eu me questiono sobre isso o tempo todo...beijos!
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