terça-feira, 11 de maio de 2010

Biopoder

Biopoder

Desde que é representante de zoé*, mais do que de bíos - pois chegar aqui é ascender à pólis, e para chegar à pólis é preciso estar na linguagem - a mulher está submetida à posição do corpo nu, da vida nua (o que Walter Benjamin chamou de bloss leben).

Bíos é o termo que, desde Aristóteles, é usado para designar o território da vida qualificada. Em seu sentido mero e simples a vida é designada por zoé. A mulher pertence ao território dessa vida desqualificada. Toda a medicina desde os primórdios pode ser analisada sob a prima da biopolítica. Assim como toda indústria estética e toda religião que tenta definir padrões de beleza e forma para o corpo, visando à manutenção do poder sobre o corpo das mulheres. A Indústria do Corpo é o modelo análogo ao que se denominou no século XX, a Indústria Cultural. Na Indústria da Cultura a mercadoria é a arte que destituída de seu poder político. Que seja domesticado. A indústria do corpo serve à manutenção do corpo pré-político, do corpo manipulável, do corpo sem voz ou qualquer expressão. A mera vida de uma mulher reclusa em concentração doméstica, ou nas páginas de pornografia ou proibidas de abortar. Que mulheres não sejam donas de seus corpos, eis o que significa o biopoder.

*Termo grego que significa "vida", "vida nua", "vida natural".


Texto retirado do livro: "Mulheres, Filosofia ou Coisas do Gênero" - Márcia Tiburi e Bárbara Valle. - Ed. Edunisc - pág 62 e 63.

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