Aqui estou outra vez para falar a
respeito de mais uma coisa valiosa que aprendi com o livro “Mulheres que Correm
com os Lobos”, de Clarissa Pinkola Estés! Há cinco anos eu estou sempre com
este livro por perto e até hoje ele tem algo importante para me ensinar...acho
que será assim pelo resto da minha vida.
Terminei há poucos dias o
capítulo 12 - A demarcação do território: os limites da raiva e do perdão. Sim,
a raiva! Esse sentimento que nos ensinaram que é feio ter, que deve combatido e
reprimido. E é justamente por conta desta repressão, que a raiva fica escondida
dentro de nós, sendo alimentada em silêncio, nos envenenado e nos transformando
em mulheres amarguradas. Ou então, em outros casos, nos transformando em
pessoas explosivas. É claro que ninguém é feliz sentindo-se assim, é claro que
ninguém quer ser consumida por esse sentimento. Mas sinceramente, alguém aqui
foi ensinada a vivenciar a raiva? Alguém já ouviu falar que é saudável nos
sentar ao lado dela, que é saudável bater um papo e tentar ouvir dela qual foi
o motivo dela ter sido despertada? Tenho certeza que não.
Neste capítulo, Clarissa nos fala
que se permitirmos, a raiva pode ser uma aliada, e tenho percebido que isso é
uma grande verdade. “Nossa raiva pode, por algum tempo, ser nossa mestra...
algo de que não devemos nos livrar tão rápido, mas, sim, pelo que devemos
escalar a montanha, algo a ser identificado, algo com que aprender, algo a ser
tratado internamente e depois ser transformado em algo útil para o mundo, ou
algo que deixamos voltar ao pó. Na vida selvagem, a raiva não é um item
isolado. Ela é uma substância à espera de nossos esforços transformadores. O
ciclo da raiva é como qualquer outro ciclo: ela sobe, cai, morre e é liberada
como energia nova”.
Ao reler este capítulo, comecei a
perceber as chances que perdi de rosnar para impor limites e respeito, ao invés
de ter ataques de fúria, a ponto de me expor e expor o outro. Sim, começo a
perceber que é possível isso! É possível que exista um momento oportuno para
mostrarmos ao outro que ele está pegando pesado. E aos poucos, começo a
entender que é possível mostrar ao outro com clareza que queremos ser
respeitadas, resolvendo o conflito ali na hora, sem precisar levar mágoas para
a casa, remoendo aquilo por muito tempo, ou até mesmo por toda a vida. Ah, mas
é difícil!
Muitas vezes é de fato impossível
resolver a questão na hora, aí, o ideal é que a gente possa perdoar. Clarissa
fala também sobre o processo do perdão, nos mostrando que ele não precisa ser
concluído imediatamente, como muitas pessoas acreditam que tenha que ser. Ela
coloca que o perdão consiste nos seguintes estágios:
1. Deixar passar — deixar a
questão em paz
2. Controlar-se — renunciar à
punição
3. Esquecer — afastar da memória,
recusar-se a repisar
4. Perdoar — o abandono da dívida
Para mim, esse é um processo
muito complicado, e não sei se já consegui concluir todas essas etapas em
relação à muitas das raivas que já tive na
minha vida. Mesmo tentando avaliar a partir destes comentários de Clarissa:
“O perdão é um ato de criação.
Você pode escolher entre muitas formas de proceder. Você pode perdoar por
enquanto, perdoar até que, perdoar até a próxima vez, perdoar mas não dar outra
chance — começa tudo de novo se acontecer outro incidente. Você pode dar só
mais uma chance, dar mais algumas chances, dar muitas chances, dar chances só
se... Você pode perdoar uma ofensa em parte, pela metade ou totalmente. Você
pode imaginar um perdão abrangente. Você decide. Como a mulher sabe que
perdoou? Você passa a sentir tristeza a respeito da circunstância, em vez de
raiva. Você passa a sentir pena da pessoa em vez de irritação. Você passa a não
se lembrar de mais nada a dizer a respeito daquilo tudo. Você compreende o
sofrimento que provocou a ofensa. Você prefere se manter fora daquele meio.
Você não espera por nada. Você não quer nada. Não há no seu tornozelo nenhuma
armadilha de laço que se estende desde lá longe até aqui. Você está livre para
ir e vir. Pode ser que tudo não tenha acabado em “viveram felizes para sempre”,
mas sem a menor dúvida existe de hoje em diante um novo ‘Era uma vez’ à sua
espera”.
Indo para a parte “prática” quero
relatar um fato curioso, que aconteceu comigo no dia seguinte após ler o
capítulo. Acabei vivendo uma situação relacionada a uma das maiores raivas que
já tive. Foram ANOS tentando fugir dessa raiva e mesmo assim, percebia que
quanto mais eu corria, a sombra dela atrás de mim aumentava. Depois disto,
foram VÁRIAS conversas com ela, até conseguir virar a página. E como disse,
pouco depois de ler o capítulo, alguém próximo faz um comentário sobre o
assunto que me feriu no passado, certamente, acreditando que falar sobre isso é
algo natural. A primeira reação que tive foi fazer cara feia e mostrar os
dentes, o que deixou a pessoa surpresa. GRRRR!! Mas passou e partimos numa boa
para outro assunto. Honestamente, após o ocorrido, fiquei pensando comigo:
“achei que essa questão estivesse bem resolvida dentro de mim”.
E depois de pensar muito a
respeito, concluí que é possível que esteja tudo bem resolvido sim...a reação
que tive foi somente uma forma de demonstrar que ok, a coisa foi desgastante.
Mas agora que tudo passou, só quero deixar o que é do passado no passado. Só
quero deixar enterrado o que já morreu... sem dúvida essa pessoa entendeu o
recado e assim, vamos tocar a vida pra frente. É assim que deve ser!
Falo aqui sobre a minha
experiência por acreditar que muitas possam estar tentando se libertar de uma
raiva, assim como ocorreu (e ainda acontecerá muitas vezes) comigo. Acho também
que o livro poderá mostrar a vocês outra perspectiva a respeito da raiva,
auxiliando muitas a se curarem dela. Acredito que se estivermos de coração
aberto, vale a pena entrar em contato com essa ferida!