terça-feira, 11 de dezembro de 2012

A Raiva: Uma Estranha Aliada

Aqui estou outra vez para falar a respeito de mais uma coisa valiosa que aprendi com o livro “Mulheres que Correm com os Lobos”, de Clarissa Pinkola Estés! Há cinco anos eu estou sempre com este livro por perto e até hoje ele tem algo importante para me ensinar...acho que será assim pelo resto da minha vida.
Terminei há poucos dias o capítulo 12 - A demarcação do território: os limites da raiva e do perdão. Sim, a raiva! Esse sentimento que nos ensinaram que é feio ter, que deve combatido e reprimido. E é justamente por conta desta repressão, que a raiva fica escondida dentro de nós, sendo alimentada em silêncio, nos envenenado e nos transformando em mulheres amarguradas. Ou então, em outros casos, nos transformando em pessoas explosivas. É claro que ninguém é feliz sentindo-se assim, é claro que ninguém quer ser consumida por esse sentimento. Mas sinceramente, alguém aqui foi ensinada a vivenciar a raiva? Alguém já ouviu falar que é saudável nos sentar ao lado dela, que é saudável bater um papo e tentar ouvir dela qual foi o motivo dela ter sido despertada? Tenho certeza que não.

Neste capítulo, Clarissa nos fala que se permitirmos, a raiva pode ser uma aliada, e tenho percebido que isso é uma grande verdade. “Nossa raiva pode, por algum tempo, ser nossa mestra... algo de que não devemos nos livrar tão rápido, mas, sim, pelo que devemos escalar a montanha, algo a ser identificado, algo com que aprender, algo a ser tratado internamente e depois ser transformado em algo útil para o mundo, ou algo que deixamos voltar ao pó. Na vida selvagem, a raiva não é um item isolado. Ela é uma substância à espera de nossos esforços transformadores. O ciclo da raiva é como qualquer outro ciclo: ela sobe, cai, morre e é liberada como energia nova”. 

Ao reler este capítulo, comecei a perceber as chances que perdi de rosnar para impor limites e respeito, ao invés de ter ataques de fúria, a ponto de me expor e expor o outro. Sim, começo a perceber que é possível isso! É possível que exista um momento oportuno para mostrarmos ao outro que ele está pegando pesado. E aos poucos, começo a entender que é possível mostrar ao outro com clareza que queremos ser respeitadas, resolvendo o conflito ali na hora, sem precisar levar mágoas para a casa, remoendo aquilo por muito tempo, ou até mesmo por toda a vida. Ah, mas é difícil!

Muitas vezes é de fato impossível resolver a questão na hora, aí, o ideal é que a gente possa perdoar. Clarissa fala também sobre o processo do perdão, nos mostrando que ele não precisa ser concluído imediatamente, como muitas pessoas acreditam que tenha que ser. Ela coloca que o perdão consiste nos seguintes estágios:

1. Deixar passar — deixar a questão em paz

2. Controlar-se — renunciar à punição

3. Esquecer — afastar da memória, recusar-se a repisar

4. Perdoar — o abandono da dívida

Para mim, esse é um processo muito complicado, e não sei se já consegui concluir todas essas etapas em relação à muitas das raivas que já tive na  minha vida. Mesmo tentando avaliar a partir destes comentários de Clarissa:

“O perdão é um ato de criação. Você pode escolher entre muitas formas de proceder. Você pode perdoar por enquanto, perdoar até que, perdoar até a próxima vez, perdoar mas não dar outra chance — começa tudo de novo se acontecer outro incidente. Você pode dar só mais uma chance, dar mais algumas chances, dar muitas chances, dar chances só se... Você pode perdoar uma ofensa em parte, pela metade ou totalmente. Você pode imaginar um perdão abrangente. Você decide. Como a mulher sabe que perdoou? Você passa a sentir tristeza a respeito da circunstância, em vez de raiva. Você passa a sentir pena da pessoa em vez de irritação. Você passa a não se lembrar de mais nada a dizer a respeito daquilo tudo. Você compreende o sofrimento que provocou a ofensa. Você prefere se manter fora daquele meio. Você não espera por nada. Você não quer nada. Não há no seu tornozelo nenhuma armadilha de laço que se estende desde lá longe até aqui. Você está livre para ir e vir. Pode ser que tudo não tenha acabado em “viveram felizes para sempre”, mas sem a menor dúvida existe de hoje em diante um novo ‘Era uma vez’ à sua espera”.

Indo para a parte “prática” quero relatar um fato curioso, que aconteceu comigo no dia seguinte após ler o capítulo. Acabei vivendo uma situação relacionada a uma das maiores raivas que já tive. Foram ANOS tentando fugir dessa raiva e mesmo assim, percebia que quanto mais eu corria, a sombra dela atrás de mim aumentava. Depois disto, foram VÁRIAS conversas com ela, até conseguir virar a página. E como disse, pouco depois de ler o capítulo, alguém próximo faz um comentário sobre o assunto que me feriu no passado, certamente, acreditando que falar sobre isso é algo natural. A primeira reação que tive foi fazer cara feia e mostrar os dentes, o que deixou a pessoa surpresa. GRRRR!! Mas passou e partimos numa boa para outro assunto. Honestamente, após o ocorrido, fiquei pensando comigo: “achei que essa questão estivesse bem resolvida dentro de mim”.

E depois de pensar muito a respeito, concluí que é possível que esteja tudo bem resolvido sim...a reação que tive foi somente uma forma de demonstrar que ok, a coisa foi desgastante. Mas agora que tudo passou, só quero deixar o que é do passado no passado. Só quero deixar enterrado o que já morreu... sem dúvida essa pessoa entendeu o recado e assim, vamos tocar a vida pra frente. É assim que deve ser!

Falo aqui sobre a minha experiência por acreditar que muitas possam estar tentando se libertar de uma raiva, assim como ocorreu (e ainda acontecerá muitas vezes) comigo. Acho também que o livro poderá mostrar a vocês outra perspectiva a respeito da raiva, auxiliando muitas a se curarem dela. Acredito que se estivermos de coração aberto, vale a pena entrar em contato com essa ferida!

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